Meia noite em ponto a banda entra no palco, se ajeita e os primeiros acordes de Agora Só Falta Você, perfeita pra abertura, e lá entra ela no palco, de preto do pescoço aos pés, usando uma camisa com a foto clássica da Marilyn Monroe, calça preta e lenço no pescoço, natural como quem passa do banheiro pra sala de casa rs. Minha primeira reação foi de choque e de ovacioná-la, claro, mas logo depois fiz minha primeira constatação: apesar dela sempre ter sido magérrima, das outras vezes em que a vi ela estava notavelmente mais cheinha. Com o público enlouquecido, ela segue sem parar pra Vírus Do Amor, uma das minhas preferidas do repertório dela, de um dos meus discos preferidos também. O público fica mais calmo, mas ainda assim dança sem parar com a batida bem 80's da música.
Aí então ela saúda a plateia, sempre espontânea e simpática, com aquele humor característico dela que mistura graça e deboche, mas sempre elegante e sem nunca esbarrar na caretice. Elogia o Rio, como sempre, comenta do calor infernal que anda fazendo, fala da sua herpes pro plateia imensa como se estivesse falando com amigos de infância. E todos ali, boquiabertos, com vontade de ouvi-la falar por dias, mas o show tem que continuar. Ela segue Saúde, num arranjo mais pesado, combinando com as projeções de caveiras no telão, mas sempre alto astral. Depois Bwana, sempre deliciosa de ouvir e cantar, com o Circo inteiro com as mãos pro alto. Faz mais graça com a plateia apaixonada, irreverente como sempre e talvez atenta a alguns odores suspeitos no ambiente, pergunta se não querem dar uma paradinha pra fumar um baseadinho, respondida com gargalhadas do público. E então seu ''recente'' hit, Ti Ti Ti, que todos dançam como se não houvesse amanhã, e Atlântida, uma das minhas preferidas e um dos melhores momentos do show, mas notavelmente desconhecida na boca do público dali, não que isso importasse muito na hora.
Faz o tradicional cover de Beatles, que cá pra nós, fica bem melhor que a original, mas que eu trocaria por qualquer outra do repertório dela. Canta On The Rocks que enlouquece o público de novo e mostra mais uma vez porque é tão foda: toca flauta transversal perfeitamente mesmo com herpes labial. Ovacionada, volta a conversar com o público como se fosse uma velha amiga (que de fato é) e em um dado momento se reprime, fala que está falando de mais e o público a defende de sua auto-crítica, louco por suas histórias. Faz um medley de Banho de Espuma com Chega Mais, desnecessário dizer que não havia um único corpo no Circo Voador que não estivesse ao menos balançando os ombrinhos.
Só quando começou a clássica introdução de Doce Vampiro que eu me toquei que o show estava se encaminhando pro final, quando a apresentação contava com mais ou menos uns 40/50 minutos de duração.Outra constatação é que pra esse show, diferente dos que eu já presenciei e dos inúmeros que vi em vídeo, ela deixou de lado hits óbvios e até então considerados necessários no show (a lista é imensa, desde Mutantes até hits do Balacobaco) pra por algumas favoritas dela e talvez não por coincidência, favoritas minhas também. Nesse momento antes dela começar a cantar eu comecei a pensar também que ela não tinha mais o pique de antigamente, que já é uma senhora (e que senhora!) dos seus 60 e poucos anos e começou a passar um filme nos meus olhos, todas as fases dela desde as Teenage Singers até o ícone incontestável que ela é hoje, aí ela solta a voz e todo mundo ali chega no nirvana, o auge do show até ali, só superado por outra música mais atmosférica ainda e hino absoluto e definitivo na carreira dela e na vida de todos nós, Ovelha Negra.
Aí, no
momento mais inesperado, ela anuncia quase na lata a aposentadoria. Protesto de
todos os cantos possíveis, gritaria, choro de muitos (incluindo o meu e o dela)
e o Circo Voador explodiu gritando ''Rita! Rita! Rita!'' e ela abaixa a cabeça,
emocionada, como todos nós. Nem dá pra descrever na verdade, foi um momento
muito lindo e único pra cada um que tava ali. Não sei se ela, assim como eu,
relembrou dos momentos dela desde o Liceu Pasteur, todas as bandas, as quedas,
os êxitos, canções que embalaram o país, papéis no cinema e na tv que marcaram,
shows inesquecíveis, relembrando tudo isso do seu trono. Lindo, lindo... A
cereja do bolo foi uma apresentação adorável e dessa vez especialmente
melancólica de Lança Perfume, todos saudando aquela eterna garotona no palco.
Ela se despede, a plateia vibra e em menos de 5 minutos ela volta ao palco com
uma camisa em homenagem à cidade a qual agora é cidadã. Canta ''Ando Meio
Desligado'' numa performance pra acalmar os nervos de todo mundo. Pergunta pra plateia se queriam alguma música
em especial, e eu lembrei de uma entrevista em que o Roberto citava ''Coisas Da
Vida'' como a preferida dele, tanto que no show em que eu fui em 2009 eu pedi e
ela tocou. De primeira eu gritei ''Toca Meu Bom José!'' (uma trollada básica na
rainha rs) mas depois pedi por Coisas Da Vida mas ela acabou não atendendo. Aí
segue Mania De Você, transe total na plateia, depois Erva Venenosa, todos
juntando as ultimas forças pra poder cantar e dançar junto com a Rita.
E com todo mundo extasiado na plateia, ela se despede mais uma vez, mais básica agora. O público continua gritando por ela meio que desacreditado do que acabou de viver.E o resto o mundo ficou sabendo depois. Enfim, um dos melhores e mais memoráveis shows da Rainha do Rock brasileiro, que sempre irá ficar na cabeça de todos nós."
Texto: Cael
Coelho
Sem dúvidas, o melhor texto sobre um show da Rita. Parabéns ao Fã Clube MARAVILHOSO!
ResponderExcluiradorei o show. foi muito bom, pena que ela vai aposentar.
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